terça-feira, 2 de abril de 2013

A culpa é do Fidel!


Eu sempre quis ser filha de pais revolucionários, engajados políticos e tal. Acho que porque meus pais nunca foram engajados em nada e sempre pensaram em política como a maioria das pessoas pensa: ou seja, eles não pensavam muito.

Nas eleições de 1989, resolvi ser uma revolucionária e engajada política, mesmo estando longe de poder votar e sem nem saber bem o que tais coisas representavam.
Arrumei vários adesivos, botons e santinhos do Lula e passava o dia com eles colados na roupa, cantando o jingle "Lula-lá/ brilha uma estrela!".
Isso irritava meus pais, que iam votar no Collor e olhavam para meu posicionamento político com grande desdém.

Mas vê-los irritados me fazia acreditar que realmente eu estava sendo super revolucionária...
Nunca fui revolucionária.
Nem engajada política.
A última vez que saí gritando pelas ruas foi em 1992, no movimento dos Caras-pintadas para o impeachment do então presidente Fernando Collor.
(Hoje, para dizer a verdade, nem sinto tanto orgulho de ter feito parte de um movimento tão manipulado...)

Mas, e se realmente eu tivesse sido filha de pais revolucionários?

Anna tem 9 anos, mora em Paris, leva uma vida bem confortável, estuda em colégio católico e sonha em ser princesa.
O ano é 1970.
Porém, tudo muda para a menina quando seus pais vão para o Chile e resolvem se engajar na luta política de Salvador Allende.
Sua mãe, que era escritora da revista Marie Claire (símbolo da elite francesa), decide escrever um livro feminista sobre o direito das mulheres ao aborto.
A família de Anna se muda para um pequeno apartamento, a menina passa a dividir o quarto com seu irmão mais novo e sua casa vive cheia de "homens barbudos".
Um verdadeiro pesadelo para uma criança que só queria ser princesa...

"A culpa é do Fidel!" é um filme lindo, sensível e divertido, contado sob a perspectiva de uma criança que não entende as mudanças que estão acontecendo em sua vida.
Um filme, aliás, para ser assistido por toda família. Seja porque mostra a importância da solidariedade (e o que é realmente ser solidário), seja porque mostra a questão do direito à escolha ou, simplesmente, porque mostra uma outra compreensão de mundo.

Ser filho de pais comunistas e revolucionários devia mesmo ser muito difícil. Mas, certamente, muito enriquecedor.
E o filme consegue comprovar isso brilhantemente, ainda que apenas nas cenas finais.
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