terça-feira, 2 de abril de 2013

As cartas que nunca li

É quando escrevo que mais me faço ser, que sinto melhor minha existência, que me encontro. Ou que me perco de vez, quem sabe.
Gosto de escrever para mim: tenho caderno de tudo o que se possa imaginar; tenho diários de viagem, tenho blocos de anotações…
Gosto de escrever para além de mim: tenho blog, tenho tumblr… e não faço ideia de para onde meus textos vão.
Gosto de escrever para os outros: cartas que mando, cartas que gostaria de mandar, cartas.
E tenho mania de fazer listas: do que comi, do que quero ler, do que vivi, do que ainda quero viver, do que não quero nem ver. Lista de amigos, lista de pessoas irritantes, lista de nomes - de filhos que nunca terei -, lista do que listar.

Susan Sontag também gostava muito de escrever (e adorava uma listinha boba, vejam só). Ela escreveu em cadernos durante muitos anos: dos quinze aos, sei lá, setenta anos. Depois que morreu, seu filho resolveu publicar seus cadernos: são os Diários de Susan Sontag.
São três volumes. No Brasil só tem o primeiro, por enquanto.


Amo ler diários e biografias. Mas ler os Diários de SS me causou um certo mal estar. Os escritos, ainda que editados por seu filho, são tão íntimos! Fiquei imaginando se, algum dia, Sontag desejou vê-los impressos e publicados. E me deu um nó no peito só de pensar que não.
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Outro dia peguei uma caixa de sapato toda fechada com fita crepe. Dentro da caixa há cartas e mais cartas de minha mãe para meu pai, desde o tempo de namoro (meados de 1960) até o casamento (1969). Sempre soube da existência dessa caixa, mas nunca tive coragem de abri-la.
Uma caixa com uma marca de sapato que já nem existe mais, cerrada com fita crepe amarelada e cheia de carta!
Um verdadeiro tesouro.
Não sei se um dia minha mãe imaginou que eu fosse dar tanto valor a suas cartas de amor.
E me dá um nó no peito só de pensar que não…



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