terça-feira, 2 de abril de 2013

Muito além de banha e farinha


Bonito e desesperador.
Assim eu diria que é o filme "Perfect sense" (ou  "Sentidos do amor", numa tradução bem chinfrim  que lhe deram).
A história é sobre um apocalipse dos mais aterrorizantes ever: uma epidemia faz com que as pessoas vão perdendo, uma a uma, cada um de seus cinco sentidos. O primeiro é o olfato. Depois, o paladar... E assim sucessivamente. Muito intrigante é que, antes de cada perda, há uma explosão de sentimento: tristeza para a perda do olfato, fome incontrolável antes da perda do paladar...
Em meio a essa epidemia há uma história de amor: duas pessoas que, apesar do caos que se estabelece no mundo, tentam se adaptar à vida.
Numa das cenas mais tocantes do filme, quando todos já perderam o olfato e o paladar, um dono de restaurante diz, sentindo-se completamente arruinado: "agora é banha e farinha. Porque é só disso que as pessoas precisam para sobreviver". Mas, a sobrevivência vai muito além de banha e farinha. E, aos poucos, as pessoas vão voltando a frequentar restaurantes apenas para ouvirem o tilintar dos copos e talheres, serem servidas, apreciarem a cor e a textura dos alimentos.
Além da capacidade de adaptação à vida, o filme faz uma relação bem interessante entre os sentidos e a memória. Quantas de nossas lembranças só existem porque as associamos ao cheiro ou ao sabor?
Achei o filme bem filosófico.
Aquele "e a vida continua" - embora todos estejam (estejamos!) caminhando para um fim iminente - é mostrado com maestria e me comoveu bastante.
Em momento algum da história há esperança de um final feliz. Porque não existe final feliz.
E só quem aprende a lidar com isso consegue viver a vida de forma mais plena e, paradoxalmente, mais leve também.



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